O texto de hoje é a doce relação de Pai e Filho! (risos)
PAI E FILHO, de Raul Franco
O momento mais difícil na vida de todos nós: a escolha da carreira.
FILHO – Pai, eu já decidi a carreira que eu quero seguir.
PAI – Que bom, meu filho! O meu sonho era ouvir isso de você. Você não sabe como eu contei os dias para que chegasse esse momento em que meu filho único me dissesse qual carreira pretende seguir. Vamos lá, meu filho. Pode falar.
FILHO – Eu pensei muito, pai, até chegar a essa decisão.
PAI – Claro. E eu acho que você deve ter chegado a uma conclusão interessante.
FILHO – Pois é, pai. Eu decidi fazer faculdade de Direito. Eu quero ser advogado como o senhor.
PAI – O quê?!
FILHO – É, pai, eu quero fazer vestibular pra Direito. Eu quero ser um grande advogado. E, quem sabe, um dia até ser promotor público. Ou Procurador Geral da República. É isso que eu sonho pra mim, pai.
PAI – Que sandinice é essa? Está louco?
FILHO – Ahn?
PAI – Quer dizer que eu espero tanto por um momento pra ter uma decepção como essa?
FILHO – Eu quero ser advogado, pai.
PAI – Cala essa boca. Filho meu não vai ser advogado.
FILHO – Eu não estou entendendo, pai.
PAI – O meu sonho era que você chegasse aqui e dissesse: “Pai, eu resolvi ser ator”.
FILHO – Ator?
PAI – É, ator. Qual é o problema? Viver de arte, era isso que você deveria fazer. Representar como o saudoso Paulo Autran ou a brilhante Fernanda Montenegro. Subir num palco e dizer um texto de Shakespeare, Tchekóv, Nicolai Gogol. E você vem dizer que quer ser advogado?!
FILHO – Como o senhor, pai...
PAI – Você não vai fazer Direito e ponto final. A família precisa de um artista. De um louco sonhador. Os vizinhos já ficam olhando pra gente com desprezo: “Olha lá, é uma família de caretas, de engravatados e frustrados”. Por isso, é indispensável que você seja um artista, alguém que acredite que “a arte existe para que a verdade não nos destrua”. Você tem que acreditar nisso. A arte precisa tomar conta do seu corpo para que você entenda que só assim a sua humanidade estará conservada.
FILHO – Mas, pai, a advocacia é uma carreira respeitada...
PAI – E você acha que a de ator não é? É por ter pessoas assim como você que a arte não está sendo respeitada.
FILHO – Eu só falei...
PAI – Não fala mais nada, pelo amor de Deus. Que decepção!!! Já não basta o seu pai com duas pontes de safena, problemas de stress e insônia. Eu quero um filho ator e não advogado.
FILHO – Mas, pai, eu não levo jeito pra ator, pra fazer teatro.
PAI – Porque nunca experimentou. Olha, se você insistir nessa idéia de advogado, eu te deserdo. E também não comprarei nada de Código Civil pra você. Se você quiser livros de arte, eu compro. A construção do personagem, A preparação do ator, A criação de um papel, tudo isso eu te dou. Mas Código Civil jamais.
FILHO – Não, pai, por favor.
PAI – E a partir de amanhã, vou providenciar um curso de teatro pra você. Tablado, Cal, até Dirceu de Matos. Mas advocacia nunca.
FILHO – Pai.
PAI – Nem mais uma palavra. Onde já se viu um filho meu advogado. Nunca.
FIM
Que bacana!!!
ResponderExcluirEste texto faz uma ironiza ao comportamento de muitos pais que recriminam o filho que deseja ser ator.Nesse caso é inverso.É aí que está toda a comicidade do texto.
rsrsrs É, essa foi a brincadeira. E o humor vem por esse absurdo! Valeu pela visita! Abraços
ResponderExcluir