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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Depois do Final Feliz



Música tema do desenho de Branca de Neve ou outra similar. Entram em cena  Branca de Neve e Cinderela.

As duas - Não acredito.
Branca - Cinderela!
Cinderela - Branca de Neve!

Abraços de amigas que não se encontram há um certo tempo.

Cinderela - Andou sumida, né?
       Branca - Pois é, tive uns problemas. Não sei se você soube, mas estou de     luto.
Cinderela - Não diga. Que interessante... quer dizer, que lástima! Meus pêsames. Não sabia que o seu príncipe tinha morrido.
Branca - Que príncipe?
Cinderela - Com quem você se casou.
Branca - Não estou de luto por nenhum príncipe, não.
Cinderela - Ah, já sei. ‘Tá de luto pela sua madrasta. Ela morreu, é?
Branca - Você não viu nos jornais, Cin? Estou de luto pelo meu marido, mas ele não era nenhum príncipe.
Cinderela - O que ele era então?
Branca - Era o Dunga!
Cinderela - Aquele anão mudo?
Branca - Você não fala comigo há muito tempo, né?
Cinderela - É, a última informação que tive a seu respeito foi quando você desmaiou por causa da maçã envenenada...
Branca - Que maçã envenenada o quê?
Cinderela - Ué, não foi maçã?
Branca - Foi uma jaca. Você acredita que aquela maldita bruxa - minha madrasta disfarçada -, me ofereceu uma jaca. E eu, gulosa como sou, comi todinha. Passei tão mal, menina...
Cinderela - E desmaiou?
Branca - Até vomitei.
Cinderela - Argh!
Branca - Por isso, o príncipe não quis me dar o beijo ressuscitador. Sabe como é, né? Esses príncipes são muito almofadinhas, cheios de frescura. Só o Dunga teve coragem de me beijar. E eu não podia deixar de seguir a tradição de minha tátátátátátátátáravó. Ou seja, casar com o homem que me beijasse.
 Cinderela - Ah, essas nossas tátátátátátátátáravós! Mas e se uma mulher a beijasse?
Branca - Deus me livre!
Cinderela - Querida, nunca diga dessa água não beberei. A gente nunca sabe.
Branca - Talvez. Mas nem me imagino tocando os lábios de uma outra mulher.
Cinderela - Mas e aí? Você foi feliz com o Dunga?
 Branca - Olha, na verdade, eu sempre sonhei em ter um homem que me escutasse. E o Dunga, por razões óbvias, tinha vantagem em cima dos outros.
Cinderela - Sei... o tamanho da orelha, né?
 Branca - Quem não sonha em ser escutada por um homem, quer dizer, metade de um homem, mas não deixa de ser um? E, o que é melhor, mudo. Pela primeira vez não fiquei ouvindo vantagens que homem adora contar...

Nesse instante, surge Rapunzel, com um cabelo chanel. Faz um ligeiro desfile. As duas ficam boquiabertas.

Branca e Cinderela - Não acredito! (viram-se) Rapunzel!
Rapunzel - Eu mesma!

As duas caminham em direção a Rapunzel.

Branca - Menina, que cabelo é esse?
Rapunzel - Resolvi mudar o visual.
Cinderela - Ficou ótimo.
Rapunzel - E você, Branca, como está? Eu soube do Dunga. Ele se matou, né?
Cinderela - Se matou?
Rapunzel - Ué, você não sabia, Cind?
Branca - Eu estava contando essa história agora mesmo pra ela. 
Rapunzel - Olha, eu espero que eu não tenha antecipado nada do que você...
Branca - Que é isso?! Não precisa se preocupar, não. Eu já fui tão bombardeada pela mídia, que pra mim tanto faz.
Cinderela - O Dunga se matou! Por quê?
Branca - Ciúme excessivo. Ele cismava que os outros seis anões me olhavam de modo diferente. Mas eu nunca tive nada com nenhum deles. Eu só tinha olhos pro Dunga. E ele insistia em dar ouvidos ao que os outros diziam.
 Rapunzel - Também com uma orelha daquelas, só podia mesmo dar ouvidos... Ai, o Dunga... Só perdia mesmo para aquele elefante. Como era mesmo o nome dele, Cind?
Cinderela - Dumbo!!!

Cinderela e Rapunzel soltam uma gargalhada

Branca - Vamos mudar de assunto?
Cinderela - Por mim...
Branca - E você? Se separou mesmo?
Cinderela - Separou?
Branca - Ai, você é muito desinformada, Cinderela! Não lê Caras, não?
Cinderela - Não suporto fofocas.
Branca - Por isso não sabe nada, nem de suas próprias amigas.
 Rapunzel - É, me separei. Cansei de ser submissa aquele homem, aquele príncipe de meia tigela. Vivia puxando o meu cabelo. Você acredita que um dia, quando eu tava pensando em cortar o cabelo, ele chegou comigo e disse: “Olha, se você cortar as suas tranças, eu te encho de porrada”. Isso pra mim foi a gota d’água. Fui a Delegacia de Mulheres e o denunciei. Ele tá preso. E eu tô feliz com esse corte chanelzinho.
Branca - É isso aí, amiga, força sempre.
Rapunzel - Mas sabia que eu tô sentindo falta de homem.
Cinderela - Eu não sinto.
Branca e Rapunzel - Não!!!
Cinderela - Por que do espanto?
Branca - Homem é bom de vez em quando.
Cinderela - Eu também acreditava. Mas depois que me casei com aquele príncipe idiota que só queria saber do meu pé, cansei. Pô, o cara não fazia nada além de acariciar o meu pé. Que é isso, nega, e o resto do corpo? Começou a me dar uma carência...
Rapunzel - É, esse negócio de carência é um problema.
Cinderela - E a Chapeuzinho Vermelho? Não viu no que deu? 
Branca e Rapunzel - O que aconteceu?
Cinderela -  Ela resolveu casar com aquele Lobo. A Chapeuzinho sempre teve uma tara por animais. Sabe como é, né, zoofilia...
Branca e Rapunzel - Cruz credo!
Cinderela - Só que aquele Lobo não passava de um cordeirinho.
Rapunzel - Não diga.
Cinderela -  Você acredita que ele trocou a Chapéu pelo caçador?
 Branca - Tô passada. E a Chapéu, denunciou esse lobo gay, colocou a boca no trombone?
Rapunzel - Ela deve ter tentado colocar a boca, mas... Pobre Chapéu. Deve ter ficado traumatizada.
Cinderela - Por isso a gente passou pro outro time.
Branca - (sem entender) Como assim?
Cinderela - (seduzindo) Nunca ouviu falar em lesbian chic?

Branca e Rapunzel ficam estáticas.

Branca - (puxando Rapunzel) Rapunzel, não ‘tá na hora do teu salão?
Rapunzel - Tem razão. Vamos. (indo embora)
Cinderela - (puxando as duas) Por que o medo? Vai dizer que vocês não sabiam?
Rapunzel - Me-me-medo. Quem falou em medo? Saber o quê? Cada um com o seu cada um, não é verdade?
Cinderela - Amigas, isso é a nova onda. Uma resposta a esses homens que não sabem agradar uma mulher. Sabia que até a Pequena Sereia é chegada?
Branca - Que é isso, gente? Onde estão os príncipes desse nosso mundo?
 Cinderela - Virando princesas, amores. Acordem enquanto é tempo. (abraça as duas) Façam como a Mulan.
Rapunzel - Até aquela chinezinha?
Cinderela - Aquela chinezinha maravilhosa!
Rapunzel - E saber que as chinesas poderiam ser umas sortudas. Afinal, lá se come de dois pauzinhos, não é mesmo?
Cinderela - Por que a gente não vai tomar um café lá em casa pra conversar melhor?
Branca - Eu nem bebo café.
Cinderela - Pode ser um chá.
Rapunzel - Nada contra, Cin, mas a gente ainda acredita que pode encontrar um homem.
Cinderela - Quem sabe esse homem não seja eu?
Branca - Rapunzel, desiste que a historinha dela é outra. (puxando Rapunzel)
Rapunzel - Adeus, Cinderela, boa sorte na sua opção.

Cinderela fica só em cena.

Cinderela - Não sabem o que estão perdendo. E vocês aí? Aceitam um café? 


Luz cai. Música. Fim.


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