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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Cena de Motel

  Ufa, depois de séculos, volto ao meu bloguinho de textos para teatro, cinema e TV. Ele foi abandonado por uma boa causa. Trabalho demais, gente! Mas hoje volto com o texto que gosto muito e que ainda não foi encenado também. Espero que curtam! 

 

 

 Cena de Motel - de Raul Franco



Mulher – Então, o que vai ser?
Homem – Como?
Mulher - O que vai rolar?
Homem – (sem entender) A gente ‘tá num motel...
Mulher - Eu sei. Mas eu quero saber como vai ser.
Homem - O quê?
Mulher - O barato.
Homem - Barato?
Mulher - É, como a gente vai desenrolar.
Homem - Olha, eu não sei se eu bebi de menos, mas eu não tô entendendo.
Mulher - É simples. Eu só preciso saber como vai ser o percurso da nossa transa.
Homem - Porque a gente não começa, aí você vai saber.
Mulher - Comigo não rola assim. Eu gosto de saber antes, até pra ter tudo na cabeça e depois executar. Desculpa, mas eu sou super-metódica e super-organizada.
Homem - A gente só vai fazer sexo.
Mulher - Eu sei, Paulo. Mas não é porque é sexo que tem que ser desorganizado.
Homem - Olha aqui, eu só quero transar.
Mulher - Então, vamos lá. Qual vai ser o seu percurso: boca, seio e vagina?
Homem - Hein?
Mulher - Tem gente que faz vagina direto, depois boca, seio e, se der, um pescocinho.
Homem - Não seria melhor a gente começar pra ser mais espontâneo?
Mulher – Vem ce, você curte preliminares?
Homem - Claro.
Mulher - Claro o quê?
Homem - Claro que eu curto. Eu gosto de preliminares.
Mulher - Quanto tempo?
Homem - O quê?
Mulher - As preliminares.
Homem - 10 minutos?
Mulher - Tá! Me engana que eu gosto. Meu filho, preliminar assim, de dez minutos, só em filme da Meg Ryan.
Homem - Pô, achei que a gente vinha pra cá pra transar.
Mulher – Transar?! Você não quer transar.
Homem - Claro que quero.
Mulher - Você quer trepar, que eu sei.
Homem - Não é a mesma coisa.
Mulher - Pior que não. Transar é uma coisa mais como jogo, como uma curtição gostosa. Mulheres até transam. Agora homens gostam mesmo é de trepar, como se a mulher fosse uma árvore, uma escada. Trepar já deixa implícito que um dos dois é subjugado. Você tem cara de trepador.
Homem - Tenho?
Mulher - Confessa. Não gosta de trepar.
Homem - É...
Mulher - É o quê?
Homem - Eu gosto.
Mulher - De quê?
Homem - Disso.
Mulher - Fala pra mim. Eu quero ouvir.
Homem - Eu gosto de... (fala de modo inaudível) trepar.
Mulher - Eu não ouvi.
Homem - (fala de novo de modo inaudível) Eu gosto de trepar.
Mulher - Grita pra me convencer.
Homem - Eu gosto de trepar, porra!
Mulher - Então, pega um banquinho e trepa porque eu não gosto de trepar. Eu transo. Faço amor. Trepar nunca.
Homem - Olha, vamos começar logo. Esse motel é caro pra caramba e a hora já tá passando.
Mulher - Eu não me importo com o tempo.
Homem - O que você quer, então?
Mulher - Quero saber: boca, vagina e seio ou vagina, seio e boca, ou seio, boca e vagina?
Homem - Bunda.
Mulher - Hã?
Homem - (com raiva) Eu começo pela bunda. Pode ser?
Mulher - Não começa a ficar com raiva, não. A gente só se conhece há três dias. Raiva é só com o tempo.
Homem - Já vi que não vai rolar.
Mulher - Sabe que eu adoro sexo verbal?
Homem - Pô...
Mulher - É bacana. Seguro. Não tem perigo. Do jeito que as coisas estão, é a melhor forma.
Homem - Eu gosto de meter.
Mulher - Meter, meter, meter. Penetrar é mais poético.
Homem - (raiva) Eu gosto de enfiar.
Mulher - Enfiar é chulo.
Homem - Foda-se.
Mulher - Foda-se é masturbação.
Homem – Ah, não enche!
Mulher - Quantos centímetros?
Homem - Hã?
Mulher - Fala aí. Teu pênis mede quanto?
Homem - Por que você não deixa eu pôr pra fora e aí você vê?
Mulher - Porque eu estou sem fita métrica, não tenho como precisar.
Homem - Nunca medi.
Mulher – Mentira! Todo homem mede o pau, assim como toda mulher pega um espelhinho pra ver a sua vaginazinha por dentro.
Homem - Não sabia dessa.
Mulher - Pois fique sabendo. Mas e aí, é grande ou pequeno?
Homem - Vai ficar na curiosidade.
Mulher - Já vi que é pequeno.
Homem - 19 centímetros, pronto.
Mulher - Ainda há pouco não tinha medido e agora é 19. Nossa! Deve ser 17, fala sério! Você roubou aí dois centímetros, confessa.
Homem - Não roubei nada. É 19, já disse.
Mulher - Fino ou grosso.
Homem - Grossão.
Mulher - Ih... Não vai dar. Eu sou muito apertada.
Homem – E daí? Já vi que não vai rolar nada mesmo.
Mulher - Você é acima da média dos brasileiros, né? A média não é entre 13 e 15?
Homem - Não sei.
Mulher – (mudando de assunto) Você já imaginou quantas pessoas já passaram por aqui? Milhares. Devia estar escrito na porta dos quartos: bem vindo, você é o visitante número mil e tal. Cê não acha?
Homem - Pra quê?
Mulher - Pra ter uma idéia. Também podia estar assim: aqui já foram contabilizados 910 orgasmos. Não seria legal?
Homem - E como iriam saber isso?
Mulher - Quando você entregasse a chave do quarto na saída, o cara devia perguntar: foram quantos orgasmos? Aí, você responderia: 2. Aí, ele: boa noite e voltem sempre. Olha que barato!
Homem - Aretuza, você pode me dizer uma coisa?
Mulher - Digo.
Homem - A gente não vai trepar, né?
Mulher - A gente pode...
Homem - Por favor, não venha com gracinha. Responde.
Mulher - Sinceramente?
Homem - Fala.
Mulher - Eu tô naqueles dias.
Homem - Você tá... menstruada, é isso?
Mulher - Não. Eu tô naqueles dias em que a mulher tira para infernizar a vida dos homens, provando que eles são apenas cachorrinhos babões!
Homem - Você tá brincando com a minha cara, é isso?
Mulher - Na verdade, eu tô.
Homem - O quê?
Mulher - Você foi o escolhido para participar da pegadinha do IBGE. Olhe para a câmera que está ali no alto e sorria.
Homem - Pegadinha do IBGE? Que porra é essa?
Mulher - Sim, pegadinha do IBGE que comprova a estatística enorme de que o sexo só acontece quando a mulher permite. Ou seja, a mulher é quem decide sempre com quem e o momento de fazer sexo. O homem, por outro lado, transa a qualquer momento, desde que encontre alguém que estale o dedo pra ele. Obrigada pela sua participação e até a próxima.
Homem - Peraí. E a gente não vai trepar?
Mulher - Aí, não pode. As câmeras do IBGE não podem captar imagens assim de um sexo voraz.
Homem - Se você quiser a gente faz um sexo delicado.
Mulher - Pois é, eu não quero. Desculpa. Hoje não vai dar. Tô com uma dor de cabeça terrível. Mas toma esse cartão.
Homem - O que é isso?
Mulher - O número de uma casa de prostituição. Liga pra lá. Lá é o único lugar em que o homem decide a hora de ter sexo. Agora, deixa eu ir, porque tenho que dar continuidade a pesquisa. Bye! Ah, deu 69 reais a sua conta. Vai pagar com cheque ou cartão?


FIM


terça-feira, 3 de maio de 2011

O amor é um bicho estranho!

Olá! Se você notou, sexta não teve texto, nem segunda. Mas hoje tem texto novo no blog. Agradeço aos 5 seguidores desse blog que, com certeza, sentiram falta de novos esquetes.

Hoje, mergulho no bom e velho tema das relações de casais. Com vocês: O AMOR É UM BICHO ESTRANHO.






O AMOR É UM BICHO ESTRANHO, de Raul Franco

Casal se encontra deitado numa cama. ela lê um livro. Ele olha para o teto. Por enquanto a luz ilumina os dois igualmente. De repente, a luz vai aos poucos ficando mais intensa nele. Ouve-se o seu pensamento. Depois, se ouvirá o pensamento dela. A luz sobre ela ficará mais forte, enquanto a dele diminuirá e assim por diante. Música calma toma conta do ambiente.

Pensamento dele - Eu e a Kátia já temos cinco anos de namoro. Estamos praticamente casados. Ainda pouco, fizemos amor. E, pra ser sincero, não me agradou muito. É que a Kátia sempre faz as mesmas coisas, não muda nunca. Repete o mesmo percurso em toda transa. Podia, ao menos, desviar um pouquinho ali, um pouquinho acolá. Mas não. Sempre o mesmo trajeto. Eu sou a estrada. E ela, um carro usado que precisa ser muito bem empurrado para andar. (ele olha pra ela e sorri)

Pensamento dela - Olha o idiota aí! Fica o tempo todo me olhando e sorrindo. Deve ter se achado o máximo na cama. Mas ele não é essa fogueira toda. Tá mais pra palitinho de fósforo. E quer saber? Eu apago esse fósforo rapidinho pra poder ficar lendo. Quer dizer, lendo não. Segurando o livro pra pensar no tédio que é a minha vida. (ela olha pra ele que sorri. ele retribui, meio sem vontade)

Pensamento dele - É tão bom olhar pra essa otária e ri dela. Ela deve pensar que eu tô super feliz ao lado dela. Mal ela sabe que eu vivo é pensando na Clara, aquela gostosa do trabalho que só vai de sainha e blusinha colada... um tesão de mulher! Se ela me estalasse o dedo, eu já estaria com ela... (olha para Kátia e ri) Olha a cara de inocente dela. Nem sabe o que eu penso. Que coisa boa pensar! A gente zomba dos outros em silêncio.

Pensamento dela - Um dos melhores momentos do meu dia é quando o Rubens vai pro trabalho. Já estou achando um saco esse negócio de dormir com o namorado. Maldita hora em que eu fui me mudar pra cá. Agora sou obrigada a acordar todo o dia e sentir a fedentina que sai da boca desse infeliz. Fora a roncadeira noturna. Não há tesão que resista.

Pensamento dele - Essa mulher aí tem mania de dar uns tapas na minha cara quando dorme. Fico me desviando durante a noite toda. Acordo cansado e roxo. Deixa essa coisinha fechar esse livro para ouvir o que eu vou dizer pra ela antes de dormir.

Pensamento dela - Eu sei que quando eu fechar esse livro, o Rubens vai querer me dizer alguma coisa idiota. Então, vamos lá, encarar esse idiota. Espero que ele diga alguma coisa que mude a droga da minha vida e me tire dessa rotina absurda em que eu fui me enfiar. (fecha o livro com uma certa força e boceja. puxa o lençol para se cobrir) Um, dois, três... ele vai falar.

Rubens - Kátia...
Pensamento dela - Não disse? (vira-se pra ele e responde)
Kátia - Oi?
Rubens - (carinhosamente) Eu te amo muito!
Kátia - (carinhosamente) Eu também, amor.

Eles se beijam. Luz cai. FIM. 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Pai e Filho

O texto de hoje é a doce relação de Pai e Filho! (risos)



PAI E FILHO, de Raul Franco

O momento mais difícil na vida de todos nós: a escolha da carreira.

FILHO – Pai, eu já decidi a carreira que eu quero seguir.
PAI – Que bom, meu filho! O meu sonho era ouvir isso de você. Você não sabe como eu contei os dias para que chegasse esse momento em que meu filho único me dissesse qual carreira pretende seguir. Vamos lá, meu filho. Pode falar.
FILHO – Eu pensei muito, pai, até chegar a essa decisão.
PAI – Claro. E eu acho que você deve ter chegado a uma conclusão interessante.
FILHO – Pois é, pai. Eu decidi fazer faculdade de Direito. Eu quero ser advogado como o senhor.
PAI – O quê?!
FILHO – É, pai, eu quero fazer vestibular pra Direito. Eu quero ser um grande advogado. E, quem sabe, um dia até ser promotor público. Ou Procurador Geral da República. É isso que eu sonho pra mim, pai.
PAI – Que sandinice é essa? Está louco?
FILHO – Ahn?
PAI – Quer dizer que eu espero tanto por um momento pra ter uma decepção como essa?
FILHO – Eu quero ser advogado, pai.
PAI – Cala essa boca. Filho meu não vai ser advogado.
FILHO – Eu não estou entendendo, pai.
PAI – O meu sonho era que você chegasse aqui e dissesse: “Pai, eu resolvi ser ator”.
FILHO – Ator?
PAI – É, ator. Qual é o problema? Viver de arte, era isso que você deveria fazer. Representar como o saudoso Paulo Autran ou a brilhante Fernanda Montenegro. Subir num palco e dizer um texto de Shakespeare, Tchekóv, Nicolai Gogol. E você vem dizer que quer ser advogado?!
FILHO – Como o senhor, pai...
PAI – Você não vai fazer Direito e ponto final. A família precisa de um artista. De um louco sonhador. Os vizinhos já ficam olhando pra gente com desprezo: “Olha lá, é uma família de caretas, de engravatados e frustrados”. Por isso, é indispensável que você seja um artista, alguém que acredite que “a arte existe para que a verdade não nos destrua”. Você tem que acreditar nisso. A arte precisa tomar conta do seu corpo para que você entenda que só assim a sua humanidade estará conservada.
FILHO – Mas, pai, a advocacia é uma carreira respeitada...
PAI – E você acha que a de ator não é? É por ter pessoas assim como você que a arte não está sendo respeitada.
FILHO – Eu só falei...
PAI – Não fala mais nada, pelo amor de Deus. Que decepção!!! Já não basta o seu pai com duas pontes de safena, problemas de stress e insônia. Eu quero um filho ator e não advogado.
FILHO – Mas, pai, eu não levo jeito pra ator, pra fazer teatro.
PAI – Porque nunca experimentou. Olha, se você insistir nessa idéia de advogado, eu te deserdo. E também não comprarei nada de Código Civil pra você. Se você quiser livros de arte, eu compro. A construção do personagem, A preparação do ator, A criação de um papel, tudo isso eu te dou. Mas Código Civil jamais.
FILHO – Não, pai, por favor.
PAI – E a partir de amanhã, vou providenciar um curso de teatro pra você. Tablado, Cal, até Dirceu de Matos. Mas advocacia nunca.
FILHO – Pai.
PAI – Nem mais uma palavra. Onde já se viu um filho meu advogado. Nunca.


FIM

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Terapia de Grupo

O texto de hoje é uma reunião de quatro mini-monólogos. E, na verdade, esses mini-monólogos foram textos que escrevi para o espetáculo Todo Mundo Amplia a Paranóia que Cria. Tenho um carinho enorme por esses personagens, porque eles me forçaram a escrever um espetáculo para falar deles e de paranóias tão comuns no nosso tempo. (risos) Essa disposição encontrada aqui era uma sugestão para serem quadros separados que surgiriam durante algum outro espetáculo de esquetes. 





TERAPIA DE GRUPO, de Raul Franco

VOZ EM OFF.: TERAPIA DE GRUPO

Alfredão – Opa. Beleza? Tô atrasado aí pra terapia? Não, né? O quê? Pra eu falar sobre sexo? Adoro sexo. De manhã, de tarde, de noite, de madrugada... Não tem hora pra sexo. Eu, por exemplo, a hora em que me dá vontade, eu faço. Sexo, pra mim, no mínimo umas 5 vezes por semana. E a cada vez que acontece, é direto. Pra suar, pra delirar, pra sentir gostoso. Sexo é assim. Sei que muitos amigos e amigas não gostam quando fico falando de sexo dessa maneira aberta. Ficam..., como se diz... constrangidos. Eu não tenho nenhum constrangimento. Gosto de falar, gosto de fazer. E quem fica muito constrangido, pode ter certeza que tem algum problema. De uma coisa eu me orgulho: não tenho nenhum problema sexual. Agora, quanto ao amor... eu não tenho tido muito tempo pra pensar nisso. Também sexo é uma coisa, amor é outra. Procuro não confundir as coisas. Nem dá. É que ando sem namorada. Transo um dia com uma, um dia com outra. Fico variando de mulher. E isso é muito melhor do que ficar nessa história de amor. Amor é uma coisa meio babaca, meio possessiva. E eu não tenho cabeça pra isso. E, pra encurtar, se você vier me perguntar se eu já amei, vou ser curto e grosso: NÃO. Nem faço questão. Já senti uma coisa esquisita por uma mulher, mas passou. Amar, nunca amei. Mas já transei com a mesma mulher mais de duas vezes... e isso é quase amor. Não é? 

CENA 2 : TERAPIA DE GRUPO

Adélia - Eu não tô muito bem pra falar agora, principalmente sobre amor, desejo, relações humanas. Essas coisas aí. Me desculpem. É que hoje, justamente hoje, faz um mês que eu me separei do Osvaldo. Apesar das descrenças das minhas amigas, eu vivi 10 anos ao lado deste homem. Gente, 10 anos não são 10 dias. É muita coisa. Eu levei adiante nossa relação, enfrentando chuvas e trovoadas. Eu acreditava que um amor podia ser eterno. Podiam me chamar de boba, careta, ingênua, mas eu acreditava, eu queria acreditar. Poxa, era o meu ideal de vida: amar pra sempre. E eu casei no civil e no religioso. Nosso casamento foi abençoado por Deus. Como pude trair a bênção de Deus? E eu tava tão linda na igreja, toda de branco. Me casei virgem, por incrível que pareça. Ninguém hoje em dia mais sabe o que é casar virgem. Ninguém mais sabe o que é casar na igreja, de papel passado. Mas eu casei, fui em frente com o meu amor. O padre tava lá, dizendo aquilo que eu sonhava em escutar: Adélia, aceita o Osvaldo como seu legítimo esposo? Prontamente eu disse: aceito, senhor padre. Ele nos abençoou e disse: até que a morte os separe. Eu acreditei. E olha no que deu. Não fomos separados pela morte. Fomos separados pela vida. Isso quer dizer que todo aquele discurso do padre não foi cumprido. Traímos a bênção da igreja. Mas, no fundo, não seguimos a risca tudo aquilo que faz parte desse ritual religioso. Muitos dizem que sou supersticiosa, mas acho que o nosso casamento não durou, quer dizer, em comparação aos casamentos de hoje em dia, que não duram mais de dois anos, durou e muito, só que não durou a vida eterna, a nossa vida eterna. Ele não durou... porque quando saímos da igreja, os nossos convidados não... nem sei bem porque... eles não jogaram ARROZ! Não jogaram arroz quando passamos por eles. Não jogaram arroz! Gente, como pode?! Foi isso. O meu casamento não sobreviveu por causa do arroz. Ai, gente, um mês de tristeza e tudo por causa do arroz. Ai, eu tô péssima. (chora)

CENA 3 : TERAPIA DE GRUPO

Marisa – Desculpa, eu tô meio atrasada... Mas estou aqui e vamos logo começar porque eu tenho mil coisas pra fazer. Ahn? Sexo? Não faço há muito tempo. Perdi até a noção do que vem a ser o ato sexual envolvendo um homem e uma mulher. Mas não me tornei lésbica, não. Na verdade, tenho outras preocupações muito maiores em minha vida. Estar falando aqui, por exemplo, já está tomando um pouco do meu tempo, que, por sinal, é muito precioso. Sim, eu sou uma administradora de empresas. Diga-se de passagem, muito bem sucedida. Tenho três casas próprias e alguns bens no meu nome. O poder realmente me atrai. Tenho tino pra isso. Tenho também um gosto refinado. Adoro jóias caras, carros importados, iates, e outras coisitas. Pra me agradar é muito difícil. Então, amo as minhas coisas e isso basta. Não, não, não, não sou prepotente. Tenho apenas a estima elevadíssima. Se eu assusto os homens? Claro. Homens têm pavor de mulheres bem sucedidas e independentes. Ainda querem a velha e morta Amélia. Coisa para a qual não tenho o mínimo talento. Por isso, vivo só, eu e o meu trabalho. Ah, tenho 4 cãozinhos de raça e com pedigree, e dois gatos franceses que ganhei de uma amiga. Eles são a minha companhia. Se sinto falta de homem? Como sentir falta de homem se tenho dez dedos? Pegou? Faço justiça com as próprias mãos. Afinal, estou cansada daqueles pseudo-garanhões que  acham que o bom sexo é fazer mil acrobacias na cama. Meu último namorado me jogava pra cima, me jogava pro lado, pra direita, pra esquerda, e ainda perguntava: tá bom, amor? Eu dizia pra mim: se você parar com esse joga pra lá, joga pra cá, vai ficar ótimo. Quem sabe até eu goze, né? Que lástima! Ah, homens, que raça de incompetência! Quando vão aprender a amar uma mulher?  Eu só sinto falta de homem quando tem barata em casa. Tenho pavor de barata. Se um dia eu conseguir parar de ter medo de barata, aí mesmo é que não vou precisar de homem.  Fazer o quê? Sou assim.

CENA 4: TERAPIA DE GRUPO

Eriberto – Boa noite! Eu me chamo Eriberto Coelho. Tenho uma história muito complicada. Mas recheada de muita paixão. Desde pequeno, eu era diferente dos outros garotos da minha idade. Enquanto eles estavam jogando futebol na praia, eu estava em casa assistindo à minha fita de vídeo favorita: Bambi. Quando vi esse filme a primeira vez, minha vida mudou por completo. Nunca entendi o meu fascínio pelo personagem Bambi. O que sei é que tinha camisa com o desenho do Bambi, mochila, caderno, tudo o que você possa imaginar. Minha mãe quando viu que eu tinha um certo jeito delicado, meio parecido com o Bambi, chamou o meu pai, que me deu três tabefes e... quebrou minha fita do Bambi. Só de pensar nisso, vem toda uma dor antiga, que eu pensava estar sepultada. Jamais pude esquecer esse fato. Nunca perdoei ao meu pai. E sempre me puni por causa do meu jeito. Passei a ser um homem destruído por dentro. E com os olhos banhados de lágrimas, olhei para o espelho e desabafei: Todos estão muito embrutecidos para entender o mundo sensível de Bambi.  Só eu sei o que passei nessa vida, me culpando por ser como sou. E, afinal, quem eu sou? Será que a gente precisa ser alguma coisa? To be or not to be... Por que um homem tem que gostar de outra mulher? A obra Romeu e Julieta não podia ser Romeu e Ricardo? Quando a humanidade vai nos olhar com outros olhos? Ai, meu Deus, eu sou um joguete do destino.    Continuo a pecar e pedindo salvação. Mas, afinal, Deus não disse: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei? Então? O que há de errado comigo? Há algo de podre no reino da Dinamarca... isso não tem nada a ver com o que eu tô falando, é que eu adoro citar Shakespeare. Ai, Romeu, você podia ser meu. Otelo, me bate com um martelo. Ricardo III, eu te quero por inteiro. Ai, que dor, que dor...  

terça-feira, 26 de abril de 2011

Revolta

Mais um texto. Esse é de 2006. Um esquete rápido, apresentando uma curiosa situação, envolvendo um jovem diante da sociedade (risos). Jovem, ao completar 18 anos, já sabe... Você pode ser preso! (mais risos) Com vocês, REVOLTA!



REVOLTA, de Raul Franco

(Banco de praça. Jovem entra em quadro e senta no banco e pega o seu MP4 para ouvir uma música. De repente, aproxima-se um sujeito, desarmado, porém, na hora de abordar o jovem, fala com aspereza)

Ladrão – Passa, passa o brinquedinho aí!!! (apontando para o MP4)
Jovem – (assustado) O que é isso?! Tu és ladrão?
Ladrão – Sou.
Jovem – (tranquilo) Ah, tá. Então, toma. (dá o seu MP4 para ele)
Ladrão - Valeu.

(O sujeito senta ao lado do jovem, colocando calmamente os fones do MP4 no ouvido. Toca o celular do jovem. Jovem atende)

Jovem – Oi? E aí, Azeitona, beleza? Ih, rapaz, não posso te emprestar o meu MP4. Um ladrão acabou de me roubar. Fazer o quê!? O cara tá trabalhando. Melhor do que ficar no coletivo, vendendo paçoca, bala juquinha e chocolate, acordando os passageiros que estão tirando uma soneca, não é? Peraí, depois eu te ligo. Tem uma nova ligação aqui. (Aperta no botão para ouvir a nova ligação) Alô? Mãe?! E aí, beleza? O quê? A senhora vai cortar a minha mesada esse mês porque eu tirei nota baixa? Tá de sacanagem!!! Pô, isso é absurdo! Tá bom, em casa a gente conversa, tchau. (desliga) Pô, fala sério!!! (toca cel) Alô? Fala, Toninho Bala, beleza? O quê? Não vai mais me vender maconha porque eu não paguei a da semana passada? Tá brincando?! Pô, meu irmão, eu vou pagar. É que a coisa tá complicada. Tá bom, você não quer conversa, né? Cê é que sabe. Tchau. (toca cel de novo) Alô... oi, meu amor, minha beleza. Cê ligou na melhor hora. O quê? Tá ligando porque quer terminar o namoro? E qual é o motivo? Porque eu tenho mau hálito. Não acredito. Tá bom!!! Adeus. (jovem desliga o celular e pega uma arma na mochila e aponta para o ladrão) Passa o meu MP4 de volta!!!
Ladrão – O que é isso, jovem? O ladrão aqui sou eu.
Jovem – Mas a sociedade me revoltou. Criou mais um sociopata. Passa, passa. Vamos.

(Ladrão entrega o MP4 pro Jovem que sai correndo)

Ladrão – Pô, fala sério! Vou ter que vender paçoca em ônibus.

Fim

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os Acessíveis

Vamos começar a nossa semana com um texto chamado Os Acessíveis. É um texto que escrevi em 2003 que reflete, com muito bom humor, sobre as dificuldades de se relacionar amorosamente com alguém, já que a vida se tornou um abismo onde o tempo é escasso e um beijo é algo raro. Espero que vocês se deliciem com um dia na vida de Penélope e Hans.




OS ACESSÍVEIS - de Raul Franco

Início da cena: barulho de carros passando, buzinas, conversas, enfim, sons de rua em geral. mulher se encontra sentada, muito bem vestida, apreensiva, à espera de alguém. logo, vemos entrar um homem de terno e gravata, apressado.

Hans - É...
Penélope - Você deve ser o Hans.
Hans - Penélope?
Penélope - Eu pensei que você não vinha.
Hans - Eu tentei vir o mais rápido.
Penélope - Atrasou-se?
Hans - É.
Penélope - Engarrafamento?
Hans - Na Rio Branco.
Penélope - Acontece.
Hans - (olhando no relógio) Eu atrasei muito?
Penélope - Dois minutos e meio. Pra quem não tem tempo é muito.
Hans - Dois minutos e meio?! Tudo isso.
Penélope - Bem, é melhor a gente ir logo ao assunto. (abrindo a sua pasta) Você trouxe?
Hans - Trouxe.
Penélope - Assim a gente ganha tempo.

(homem também abre a sua pasta de executivo. de repente, os dois param e se olham e falam ao mesmo tempo)

Os dois - Sabia que você...

(devido a coincidência, eles soltam um ligeiro sorriso)

Penélope - Pode falar.
Hans - Não. Fala você.
Penélope - Não. Fala você.
Hans - Fala você.
Penélope - Fala você.
Hans - Você.
Penélope - Você.
Os dois - Vo... (olham no relógio) Olha o tempo.
Penélope - Eu falo, então. É que... O que eu ia falar mesmo? Ih, esqueci... e não tenho tempo de lembrar.
Hans - Eu lembro, eu falo. Você é diferente do que eu imaginava.
Penélope - (preocupada) Decepcionado?
Hans - Não!!! Você é muito melhor do que eu imaginava.
Penélope - (abrindo um sorriso) É verdade.
Hans - (pensando que ela também acha isso dele) Você também acha?
Penélope - Eu também acho... que a maioria das pessoas me imagina inferior ao que eu sou realmente. (começa a ri, sozinha) Isso é bom, não?
Hans - (decepcionado) Muito.
Penélope - Ah, lembrei. Eu ia falar o mesmo de você.
Hans - (abrindo sorriso) Então, você também se surpreendeu?
Penélope - Me surpreendi e fico feliz. É que são tantas frustrações...
Hans - O quê?
Penélope - Nada. Nada, eu só quis dizer que é a minha primeira vez que... (faz um gesto)
Hans - Marca um encontro com alguém que você nem conhece?
Penélope - Isso. É tão esquisito que eu nem sei como me portar. Faz tempo que... que... sabe como é? Que eu estou sozinha. Quer dizer, faz tempo que eu não tenho tempo. E por não ter tempo, às vezes, fico teclando mesmo, procurando pessoas interessantes. E por não querer perder mais tempo... quer dizer, chega uma hora em que você tem que dar uma trégua no trabalho e encontrar alguém com quem você possa... entende? Eu pensei nisso e percebi que se eu continuar correndo, vou acabar ficando sozinha, e chega um momento que você precisa ter alguém. (interrompendo) Eu nem acredito que eu falei tudo isso.
Hans - Então, que tal se a gente se adiantar.
Penélope - É, afinal a gente veio aqui pra isso.

(ela mexe na bolsa e ele mexe na pasta. de repente, param. olham-se)

Penélope - A gente só trocou algumas informações e está aqui em pleno Centro da cidade nesse sol, nesse calor... isso não é engraçado?
Hans - O mais engraçado é que a gente não sabe nada um do outro.
Penélope - Às vezes, é melhor. O pior é a gente passar tanto tempo com uma pessoa e descobrir que tudo aquilo que a gente soube dela era melhor não ter sabido. Pra poupar a relação.

(Ela mexe na bolsa, ele mexe na sua pasta. de repente, tiram um papel de dentro ao mesmo tempo)

Os dois - Aqui está.

(olham-se meio inseguros)

Penélope - Este é o meu.
Hans - Aqui está o meu.

(Penélope olha rápido para o papel. Hans olha para ela e pro papel que está com ela)

Penélope - Legal. Que coisa, né? A gente combinou de se encontrar pra isso (mostra o papel). E já estamos batendo um papo.
Hans - Já falamos muito, né? 
Penélope - Eu acabei me soltando
Hans - É.
Penélope - Isso é bom.

(fica um silêncio breve, os dois se olhando. de repente, Penélope corta)

Penélope - Bem, Hans, já estamos de posse dos nossos currículos. E já podemos nos avaliar. Pra ver se um serve pro outro. Porque se não servir a gente nem perde tempo de dar o primeiro beijo, não é?
Hans - Essa sua idéia dos currículos é genial. Todo relacionamento poderia começar com a entrega do currículo pessoal. Pra especificar o nosso histórico amoroso. Eu achei isso bem interessante. Vou adotar a sua idéia, se é que você me permite.
Penélope - Permito. Sem problema. Agora, acho que devo ir, porque eu preciso avaliar os currículos.
Hans - Currículos?
Penélope - É. Eu me esqueci de avisar, mas eu já estou com uns dez currículos na minha bolsa de outras pessoas e preciso avaliar. Espero que você não se importe de concorrer com outras pessoas.
Hans - Não. Sem problema. Na concorrência, sempre vence o melhor.
Penélope - Às vezes, o mais disponível, o mais acessível. Ó, eu sei que isso não é correto, mas vê só... (mexe na bolsa e pega alguns currículos) Esse aqui! O currículo de um cara chamado Arnaldo. Vê o que ele diz.

(Hans pega o currículo do Arnaldo)

Penélope - Ele foi casado seis vezes. A última mulher morreu num acidente de carro. Ele bebe uísque importado. Tem saído para boates, onde se distrai com um som dançante. Fuma Malboro, três maços por dia. E tem seis filhos “amorosos em busca de uma madrasta simpática e profundamente delicada e atenciosa com o lar” - palavras dele, ‘tá escrito aí. Primeiro: eu detesto homens que fumem e detesto sons dançantes. E esse negócio de filhos amorosos em busca de uma madrasta sei-lá-mais-o-quê é o fim da picada. Em suma, descartado. (rasga o currículo e põe em cima do banco)

(Hans fica parado, olhando pra ela)

Penélope - Mas o seu eu vi rapidamente e diz que você gosta de Agatha Christie. Eu também adoro. Já é um passo. Também diz que você abre a porta do carro pra mulher entrar. Acho isso muito importante, sabia? Com certeza, vou ler o seu com carinho.
Hans - Espero agradá-la. Não quero ser um currículo rasgado em praça pública.
Penélope - O que é isso?! Não se preocupe. Pra te consolar, fique sabendo que os outros currículos foram mandados para a minha caixa-postal. Você foi o único com quem eu marquei encontro, assim, face a face.
Hans - Eu também vou ler o seu com carinho. (com o currículo na mão. olha pra o currículo)
Penélope - E a gente se liga pra discutir os itens do currículo, tá bom?
Hans - Espera. Você diz aqui que “adora sentir um corpo de uma mulher sarada todo molhado, depois da musculação”.

(Penélope pega o currículo da mão de Hans)

Penélope - O quê?
Hans - ‘Tá escrito aí.
Penélope - Ah, esse currículo é da Marcela.
Hans - Marcela?! Eu nem reparei no nome. Quem é Marcela?
Penélope - É... Olha, eu falei que recebi muitos currículos, né? Quer dizer, eu tenho uns dez currículos em minha mão. E algumas mulheres também me mandaram. Não custa nada dar uma olhada. Chega um momento em que a gente tem que atirar pra tudo que é lado, não é mesmo?
Hans - (concluindo) É.
Penélope - E eu gostei dessa parte do “corpo sarado molhado”. Deve ser interessante.

(silêncio)

Hans - E o seu currículo?
Penélope - Ah, vou pegar. (Abre a bolsa. procura) Eu não acredito. Eu não trouxe o meu currículo. Ah, Hans, mil perdões. É que no corre-corre, sabe como é. E agora?
Hans - Ah, quando a gente marcar o segundo encontro pra discutir o meu currículo, você traz o seu.
Penélope - (cortando) Não. Vai ficar um papo pela metade. Eu vou falar de você, do que consta no seu currículo e você não vai falar nada de mim? Não. A gente tem que avançar no segundo encontro. Faz o seguinte: eu te mando por e-mail, pode ser?
Hans - Ótimo. Eu vou esperar.
Penélope - Desculpa o vacilo, Hans.
Hans - Não grila.
Penélope - Agora deixa eu ir que já tô atrasada. Como a gente acabou desenvolvendo este diálogo, eu vou ter que ficar sem almoçar, mas tudo bem. Perde um pouquinho de tempo aqui mas ganha um pouquinho de tempo lá. E de quebra, faz-se um dietinha forçada. (sorri meio que forçado) Tchau.
Hans - Tchau.
(os dois se viram e caminham apressados. Hans pára, se vira, e chama Penélope)

Hans - Penélope, espera. Como eu não vou poder ver e-mails hoje, quer dizer, eu nem sei se você pensaria em mandar o currículo hoje...
Penélope - Eu ia mandar.
Hans - Pois é, mas só poderei conferir depois. Tô com problema no monitor. Mas ele voltará do conserto amanhã. Então, já que você falou que está com - dez currículos, não é isso?

(Penélope balança a cabeça positivamente)

Hans - Então, já que estamos na mesma, ou seja, na procura, quem sabe você não poderia me ceder uns três currículos pra que eu possa realizar uma avaliação.
Penélope - Mas eu acho que só tenho o da Marcela de mulher aqui comigo. Mas também o histórico amoroso dela é com mulher e o amor pretendido é com mulher. Acho que não vai ser útil.
Hans - Mas você tem de homem aí, não tem?

(ela olha, estranhando)

Penélope - Tenho, sim. Acho que uns sete.
Hans - Seria pedir muito para ler uns três, mais ou menos.
Penélope - Você?
Hans - É, eu. Acho que também posso atirar pra tudo que é lado. Espero acertar em algum lugar.
(Penélope entrega os currículos pra ele)
Penélope - A gente sempre acerta. Pelo menos, dribla-se a solidão. Leva esses três. Pode interessar.
Hans - Obrigado. Mas não deixa de mandar o seu.
Penélope - Mandarei. Porque eu gostei de você.
Hans - Eu também gostei. Espero que tenhamos tempos compatíveis.
Penélope - Tchau.
Hans - Tchau.

(repetem a mesma caminhada. param. viram-se e caminham apressados em direção ao outro)

Hans - Você disse que o tempo que conversou comigo foi o tempo do seu almoço?
Penélope - Foi.
Hans - Depois do almoço sempre tem uma sobremesa.
Penélope - Sempre.
Hans - Pudim?
Penélope - Mousse.

( Hans se aproxima do corpo de Penélope. toca a sua cintura e vai se aproximando da boca de Penélope. barulho de badaladas de relógio. os dois começam a falar rápido e a caminhar, indo embora)

Penélope - Não temos tempo pra isso.
Hans - Nunca temos.
Penélope - Quem sabe na semana que vem.
Hans - E se você tiver de dieta e não quiser sobremesa?
Penélope - Fico com o cafezinho. Boa sorte nos currículos.
Hans - Você não se importa de competir?
Penélope - Sempre vence o melhor. 
Hans - Ou os mais acessíveis.
Penélope - Tchau.
Hans - Tchau.

(os dois saem apressados)

FIM