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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Homens do Século XXI

Eu lembro que estávamos em processo criativo de um espetáculo de esquetes. Eu levei alguns textos que estavam prontos para fazermos leituras. E no meio do processo, acabei escrevendo coisas novas. Esse texto é dessa leva. E nunca foi encenado. Gosto dele, pelo inusitado da situação. 







HOMENS DO SÉCULO XXI - de Raul Franco


VOZ EM OFF.: HOMENS DO SÉCULO XXI

Horácio – Loucura, loucura... lá em casa tá uma loucura. Cara, eu não tô me entendendo muito bem com a Narinha. Pô, nunca pensei que a gente pudesse se desentender um dia, sabe. No começo tudo era muito mais intenso, bonito, leve. Agora, tá um desgaste total.  
Luís – Acontece, Horácio . Relacionamento é assim mesmo.
Horácio – Mas isso me fere, cara. Três anos de casado e a Narinha não entende certas coisas. Você acredita que o tempo todo ela só quer sexo? Só pensa em sexo? Como se a relação só fosse pautada nisso.
Luís – Não acredito.
Horácio – E, às vezes, eu não tô muito a fim de sexo. Tô com outras coisas na cabeça. Mas ela não entende.
Luís – A Narinha parece ser tão compreensiva.
Horácio – Mas agora ela tá surtando. Várias vezes eu chego e digo: “Olha, Narinha, vamos discutir a relação. A gente precisa discutir a relação”. Porque eu acho necessário discutir a relação. Aí ela vem e diz: “Vamos deixar isso pra depois. Vamos fazer um amorzinho gostoso”. Eu fico aborrecido. Mas acabo cedendo, sabe como é, né? E depois me dá um vazio. É duro você fazer amor grilado com alguma coisa. Eu não gosto.
Luís – Eu também não. Eu acho que é preciso a relação estar respirando para que as coisas fluam melhor.
Horácio – E ela agora deu pra sair direto. Não pára em casa. Vive no clube com as amigas. Eu já pedi pra ela me levar junto, mas ela não leva. Eu pergunto: “Por que, Narinha?” E ela diz que são coisas de mulher, que lá não é lugar pra homem, etc e tal.
Luís – Mulher tem muito disso.
Horácio – E ela tem chegado bêbada em casa.
Luís – Sabia que tinha negócio de bebida no meio.
Horácio – Bêbada, Luís, bêbada. E chega com vontade de quebrar tudo. Sabe a pessoa agressiva? Pois é... Dia desses eu resolvi deixar as crianças com a mamãe. As crianças não podem ver isso.
Luís – Você tá certo, Horácio. Isso pode traumatizar as crianças. A gente tem que pensar nelas. Mas você não reclama com ela?
Horácio – Reclamo sempre. Mas uma vez ela chegou enlouquecida.  Quando eu reclamei, disse que isso não podia estar acontecendo, que ela tava louca, ela me agrediu. Levei um direto na cara. Pensei até em denunciar, mas tem as crianças, né?
Luís – Ela te deu um soco, Horácio ?
Horácio – Um soco!
Luís – E você fez o quê?
Horácio – Na hora a gente não sabe nem o que fazer. Pô... Comecei a chorar.
Luís – Caramba. E ela?
Horácio – Tava transtornada. Nem ligou. E ainda quis fazer amor comigo antes de dormir. Humilhante, cara, humilhante. Eu com a cara quebrada e a mulher querendo fazer amor.
Luís – Cara, como pode? A Narinha se transformou nesses anos, hein? .
Horácio – Eu até desconfiei que ela tava me traindo. Vive no msn conversando com não sei quem. Se tranca no banheiro pra falar no celular. Isso tá me deixando muito mal. Tanto que eu fui conversar com a mãe dela.
Luís – E o que ela disse?
Horácio – Que a Narinha tem esse temperamento mesmo. É dela. Mas eu tô sofrendo com isso, Luís. Não quero em hipótese alguma me separar. Eu amo a Narinha, apesar de tudo. E quero manter o meu casamento... Pô, eu tô aqui falando direto de mim e nem sei como você tá. E o teu casamento como anda?
Luís – Me separei.
Horácio – Jura?
Luís – Sim.
Horácio – Eu falando aqui sobre separação e você se separou. Você deve tá super-mal.
Luís – Nada. Tô superando. No começo fiquei em trapos. Não conseguia me alimentar. Não dormia direito.
Horácio – Pô, Luís, que situação, né?
Luís – As mulheres hoje em dia não querem permanecer casadas. Tão muito soltas. Não cultivam o amor. Por isso, eu me separei. Tô cansado de ficar em segundo plano. A Bel sempre me colocava pra escanteio. É muito chato isso.
Horácio – É verdade.
Luís – Mas, olha, não vamos ficar remoendo essas coisas tristes. Isso não é o fim do mundo. Tive uma idéia. Que tal se a gente for ao shopping fazer umas compras? Umas roupas, uns sapatos, hein? A gente compra um monte de coisas e fica legal. Esquece isso tudo.  
Horácio – Ótima idéia. Adoro comprar. E a Narinha nunca me acompanha nas compras. Fica reclamando quando eu fico experimentando as roupas, decidindo qual eu vou levar. É um saco. Mulher é um saco. Não entende.
Luís – Mas agora vamos nós dois. Nada como ir às compras com outro homem. Nós nos entendemos. E tem uma loja que tá com uma promoção de cuecas.
Horácio – Jura? Tô precisando comprar umas novas.
Luís – Cuecas lindas. Sabe aquelas cuecas com elástico grande, assim...?
Horácio – Claro que sei. Elástico de dois dedos. Me amarro.
Luís – Você vai adorar. E o bom é que tá dividindo em 6 vezes sem juros.
Horácio – Que show!
Luís - Vamos nessa!
Horácio – Vamos.


FIM

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